Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em modalidade escrita formal da língua portuguesa, sobre o tema como o futebol moldou a identidade brasileira?
TEXTO 1:
Ao tratar sobre a identidade brasileira, é impossível não citar Darcy Ribeiro. Autor do livro O povo brasileiro, Darcy realizou, na obra, um verdadeiro raio-x da população do país. Em entrevista durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, em abril de 95, o jornalista Juca Kfouri perguntou a Darcy se ele concordava com uma parte da intelectualidade do Brasil que “volta suas costas” para o futebol, classificando-o como alienação (a velha expressão “o ópio do povo”), ao que Darcy respondeu negativamente.
O futebol é o único reino em que o povo sente a sua pátria. É incrível, todo brasileiro, o patrão e o empregado. […] A pátria do brasileiro comum é o futebol. […] O futebol era democrático, com aqueles que jogavam com uma bola de pano. Então o que é importante é as escolas de todo lugar darem mais chance para surgir um fenômeno, como um gênio, um Einstein dos nervos e dos músculos como Pelé. É muito difícil, mas só é possível quando você seleciona e sobra um milhão. Quando um milhão de meninos estão jogando futebol. Quando não jogam, porque não há campos de pelada, é ruim. Eu acho o futebol muito importante, e acho que o futebol é o momento em que o brasileiro chora, se apega, em que ele tem pátria. A pátria pra ele é madrasta, dá a ele uma má escola, deixa ele com fome, desempregado. Você não acha isso?
Nesse trecho, Darcy deixa clara uma relação entre o brasileiro e sua pátria que se mostra ambígua. Os brasileiros não são, via de regra, um povo nacionalista. Os motivos para isso são muitos, passam pela história da independência do Brasil, que foi obtida sem guerras, de maneira diferente de outros países, inclusive de seus vizinhos latinoamericanos. No entanto, no momento em que a seleção brasileira entra em campo, brasileiros de todas as classes e setores da sociedade se unem na torcida pelo time canarinho. Esse sentimento de união nacional não deixa de ser explorado politicamente até hoje.
Fonte: https://medium.com/@gustavopg/a-import%C3%A2ncia-da-identidade-nacional-e-o-papel-do-futebol-como-elemento-de-sua-constru%C3%A7%C3%A3o-14dfcd837ef. Acesso em 11 de novembro de 2020.
TEXTO 2:
“Uma vez por semana, o torcedor foge de casa e vai ao estádio. Ondulam as bandeiras, soam as matracas, os foguetes, os tambores, chovem serpentinas e papel picado: a cidade desaparece, a rotina se esquece, só existe o templo. Neste espaço sagrado, a única religião que não tem ateus exibe suas divindades. Embora o torcedor possa contemplar o milagre, mais comodamente, na tela de sua televisão, prefere cumprir a peregrinação até o lugar onde possa ver em carne e osso seus anjos lutando em duelo contra os demônios da rodada.
Aqui o torcedor agita o lenço, engole saliva, engole veneno, come o boné, sussurra preces e maldições, e de repente arrebenta a garganta numa ovação e salta feito pulga abraçando o desconhecido que grita gol ao seu lado. Enquanto dura a missa pagã, o torcedor é muitos. Compartilha com milhares de devotos a certeza de que somos os melhores, todos os juízes estão vendidos, todos os rivais são trapaceiros.
É raro o torcedor que diz: “Meu time joga hoje”. Sempre diz: “Nós jogamos hoje”. Este jogador número doze sabe muito bem que é ele quem sopra os ventos de fervor que empurram a bola quando ela dorme, do mesmo jeito que os outros onze jogadores sabem que jogar sem torcida é como dançar sem música.
Quando termina a partida, o torcedor, que não saiu da arquibancada, celebra sua vitória, que goleada fizemos, que surra a gente deu neles, ou chora sua derrota, nos roubaram outra vez, juiz ladrão. E então o sol vai embora, e o torcedor se vai. Caem as sombras sobre o estádio que se esvazia. Nos degraus de cimento ardem, aqui e ali, algumas fogueiras de fogo fugaz, enquanto vão se apagando as luzes e as vozes. O estádio fica sozinho e o torcedor também volta à sua solidão, um eu que foi nós; o torcedor se afasta, se dispersa, se perde, e o domingo é melancólico feito uma quarta-feira de cinzas depois da morte do carnaval.”
Fonte: https://trivela.com.br/quatro-textos-nos-quais-eduardo-galeano-traduziu-a-paixao-pelo-futebol-em-forma-de-literatura/. Acesso em 11 de novembro de 2020.