Funk como manifestação cultural

Leia os textos motivadores.

TEXTO 1

Ao longo da história do Brasil, mudou o ritmo, dos tambores, pandeiros e atabaques para a batida eletrônica grave. Mas há continuidade na repressão de manifestações culturais de matriz africana e negra (capoeira, candomblé e samba) ou periféricas (rap nos anos de 1990 e 2000 e funk atualmente) com empenho e violência. “Se no passado o sambista foi classificado como vagabundo, nos dias atuais a pessoa que se diverte no baile ou o artista do funk podem ser classificados como marginais, ou pior, traficantes”, explica Lourenço Cardoso, professor do Instituto de Humanidades da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).

Adaptado de: https://brasil.elpais.com/sociedade/2019-12-07/do-samba-ao-funk-o-brasil-que-reprime-manifestacoes-culturais-de-origem-negra-e-periferica.html

TEXTO 2

O funk brasileiro vive há quase duas décadas entre extremos de aceitação e repúdio. Se as músicas contam com milhões de plays no YouTube e Spotify, o estilo também foi alvo em 2017 de um abaixo-assinado com mais de 20 mil assinaturas que pediu ao Senado que o tornasse crime. Em dezembro do ano anterior, o então prefeito eleito de São Paulo, João Doria, classificou os eventos de funk de rua da periferia de São Paulo (conhecidos como “fluxos”) como “um cancro que destrói a sociedade”. No mesmo mês, subiu no YouTube o vídeo de “Deu onda”, do MC G15, de Duque de Caxias. O clipe contava com mais de 300 milhões de plays nove meses depois. Entre os detratores do gênero é comum ouvir que o funk estaria entre os responsáveis por um declínio moral e cultural do Brasil. Entretanto, de acordo com a opinião de profissionais e especialistas ouvidos pelo Nexo, o funk pode ser entendido sim como consequência de uma sociedade marcada por exclusão e violência.

(…) O funk se consolidou como gênero ouvido por jovens da periferia de cidades por todo o Brasil, do Rio de Janeiro ao Recife. Ao lado dos gêneros conhecidos como “gospel”, ligados às igrejas evangélicas e opostos em termos de mensagem, o funk é para onde tendem a migrar adolescentes com interesse em fazer música hoje na periferia. Cantado em português, o funk frequentemente se tornou um canal para se relatar as dificuldades da vida na comunidade. Em meio à denúncia, entretanto, o tom raramente soa resignado ou melancólico. Muito mais comum nas letras é o orgulho da favela, da sua potência criativa e capacidade de animação. A exaltação da origem aparece em funks de todos os tipos e vertentes, às vezes até em nomes de artistas, como Nego do Borel (da Favela do Borel, no Rio). (…) 

O funk sofre críticas por diversos aspectos. Há quem reclame da sua falta de “musicalidade”. Nas comunidades em que acontecem festas, são frequentes os protestos por perturbação do sossego. Mas as duas acusações mais disseminadas são a de que o gênero faz apologia à violência e que é machista e objetifica a mulher. Do outro lado, existem muitas denúncias de atos de violência dentro de bailes funk, não faltando vídeos no YouTube e reportagens na mídia sobre isso. No Rio de Janeiro, um período da década de 1990 é conhecido como o dos “bailes de corredor”, em que galeras rivais, separadas em lados distintos por seguranças, trocavam agressões físicas. Muitas letras reforçam essa impressão ao cantar sobre armas, crimes e conflitos, caso do “Rap das armas”, sucesso da década de 90 que lista marcas e modelos de pistolas e fuzis. Em sua defesa, os artistas dizem que estão apenas cantando o que vivem. “O funk não é o criador da violência… mas canaliza a violência”, escreveu MC Leonardo em artigo no jornal O Globo.

No livro “Funk Carioca: Crime ou Cultura? O som que dá medo. E prazer”, a jornalista Janaína Medeiros define o episódio como “o divisor de águas na história do funk”. Os rituais de confronto do baile acabaram reproduzidos no asfalto, em plena luz do dia. “No dia seguinte, fotos ocupavam as primeiras páginas dos jornais em todo o país e ganhavam manchetes no mundo”, escreveu Medeiros. Para Adriana Facina, da UFRJ, o funk nasceu em um momento de ampliação do estado penal, guerra às drogas, com aumento do comércio e consumo de cocaína, e a escolha, com o fim da ditadura, de um “novo inimigo” na forma do jovem pobre de periferia. A “criminalização brutal” desse setor da população está ligada à macabra sucessão de chacinas ocorridas a partir de 1990, incluindo a ocorrida em Acari em 1990 (11 jovens, sendo seis menores, desaparecidos), e as da Candelária (oito jovens, sendo seis menores) e de Vigário Geral (21 moradores da comunidade), ambas em 1993. “O funk é fruto de tudo isso”, disse Facina ao Nexo.

Adaptado de: https://www.nexojornal.com.br/explicado/2017/10/22/Popular-e-perseguido-funk-se-transformou-no-som-que-faz-o-Brasil-dan%C3%A7ar | https://www.spiritfanfiction.com/historia/era-so-mais-um-silva-12254389/capitulo1

Com base na leitura dos textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em modalidade escrita formal da língua portuguesa, sobre o tema o funk como manifestação cultural.