Ana Isabel Gonçalves
8 Março, 2018

O Dia Internacional da Mulher continua a fazer sentido até que exista, de facto, igualdade de géneros. Por isso, o Espalha-Factos relembra várias personalidades femininas que, não só marcam esta data, como continuam a ser um exemplo para todas as mulheres.
Nos livros, Hermione Granger é uma personagem mítica para muitos. O seu poder não tem igual e, passados 20 anos do lançamento de Harry Potter e a Pedra Filosofal, a menina com voz autoritária e longos cabelos castanhos e encaracolados continua a ser uma inspiração. Mas vejamos porque é que a sua história de amor continua a despertar tantos comentários dos fãs.
Se também segues tudo sobre a saga Harry Potter sabes que já muito se falou sobre quem seria o par perfeito para Hermione Granger. Não é segredo que a feiticeira deveria ter acabado com Harry, até mesmo J.K. Rowling concorda e já o afirmou.
Porém, a autora estava totalmente enganada sobre a grande feiticeira e o trapalhão mais ruivo de Hogwarts. Ron Weasley e Hermione Granger são almas gémeas.
Contudo, o que realmente importa é perceber por que razão este tema faz derramar tanta tinta. Porque é que passados 11 anos continuamos a comentar a história de Hermione e com quem ela devia terminar?
Hermione é vista como um ícone feminista desde o início, tal como a própria actriz que a interpreta. Emma Watson é uma das caras do movimento HeForShe, estando também associada a outros projectos com vista ao empoderamento da mulher.
Apesar de ser mudblood, como muitas vezes o malvado Malfoy lhe chamava, Hermione era a bruxa mais brilhante da sua idade. Ela era incrivelmente inteligente, sempre com a resposta certa na ponta da língua e sem nunca ter medo que todos à sua volta soubessem disso. Não obstante, Hermione usava também a sua varinha com tanta habilidade e poder como Harry ou qualquer outro feiticeiro poderoso de Hogwarts.
Assumindo causas ativistas com muita garra, Hermione não só teve a magnífica ideia do S.P.E.W. (Society for the Promotion of Elfish Welfare) para proteger os direitos dos elfos – apesar de ter falhado -, como também participou no Exército de Dumbledore, ajudando a mudar toda a trajetória da Segunda Guerra Mágica.
Porquê tanto burburinho?
Então, depois de percebermos tudo o que Hermione Granger conseguiu fazer e de vermos o quão inteligente e forte ela é, porque é que continuamos tão obcecados com quem ela deveria ou não deveria ter casado?
Porque é que nós, como mulheres e homens da era moderna, ainda achamos que as mulheres precisam de relacionamentos românticos, de casar e ter filhos para serem completamente bem-sucedidas e se sentirem realizadas?
Claro que qualquer história, seja ela de acção, mistério, ficção, romance, pode ter momentos românticos, casais que acrescentam conteúdo à trama. No entanto, quando reduzimos a Hermione a um relacionamento amoroso, ignoramos todos os feitos que realmente a tornam uma dos personagens mais especiais, apaixonantes e memoráveis da história literária.
Na verdade, uma das razões pelas quais o final de Hermione na saga foi, de certo modo, tão frustrante passa pelo facto da personagem ter seguido um caminho tão convencional como o casamento, a família e os filhos em primeiro lugar. Obviamente que não é necessário uma mulher ficar solteira e não ser mãe para que se realize, para que tenha um objetivo de vida interessante, um trabalho importante ou lutar pelos reais interesses da mulher.
Contudo, parece que as personagens femininas, no final das histórias, têm sempre de terminar ao lado de alguém, de um ombro mais forte. Como se a vida de uma mulher dependesse sempre de uma outra pessoa, como se não conseguíssemos amar-nos sozinhas ou, pior, como se ser do sexo feminino fosse impeditivo de ter tantas ou mais capacidades, físicas e/ou intelectuais, para concretizar os objectivos a que nos propusemos.
Ter ficado com o Ron é algo bom e engraçado, ninguém diz o contrário. Porém, é importante perceber que a Hermione é mais para além disso, a feiticeira consegue e iria sempre conseguir, mesmo que não namorasse com o Rony, lutar sozinha e ter uma carreira como ela própria traçou. Por isso, seria interessante que a personagem seguisse um rumo diferente, onde fizesse do ativismo e da sua carreira a sua principal prioridade, viajando pelo mundo mágico em busca da igualdade para todos.
Mesmo que possamos ver Hermione assumir uma posição de liderança no governo, em Harry Potter e a Criança Amaldiçoada, a forma como é retratada ao longo da saga mostra o quão dececionante são os “pré-conceitos” do ser-humano. Ora, a verdade é que o relacionamento da personagem com o melhor amigo de Harry foi escrito como a parte que mais definiu a trajetória de Hermione.
Vejamos: a trama implicava que, se a feiticeira não tivesse casado, a mesma teria terminado como uma “solteirona” amarga, que desistiu de todos os seus sonhos e se tornou um monstro. O verdadeiro cliché, portanto!
O facto da brilhante feiticeira precisar de um relacionamento para tornar a sua vida feliz, tendo em conta a sua forte personalidade, quase que nos faz rir. A sério que querem que pensemos que uma vida a dois ou com uma família é a única forma da feiticeira ou qualquer outra mulher ter alegria na sua vida?
Por onde quer que o caminho de Hermione a tenha levado, independentemente do que ela decidiu, esta é a altura para a olharmos de forma distinta. É a hora de começarmos a olhar para Hermione Granger como uma mulher, com tudo o que isso implica, ou seja, perceber os motivos verdadeiros pelos quais a adoramos: a sua inteligência, determinação, força, a sua lealdade, também a sua gentileza claro mas, sem dúvida, pela sua independência (tenha ela ou não alguém do seu lado).
Feliz Dia Internacional da Mulher, Hermione!
Disponível em: https://espalhafactos.com/2018/03/08/porque-teve-hermione-granger-de-casar/. Acesso em: 24 de julho de 2020.