Instagram e cirurgia plástica

TEXTO 1

Modinha no Instagram, desejo de vida: por que há tantas adolescentes obcecadas com cirurgia plástica?
Por conta das redes sociais e da naturalização desse tipo de operação por influenciadores, jovens vêem procedimento como alternativa “simples”

THAMIRES TANCREDI

Se você está um tantinho por dentro das últimas tretas das redes sociais sabe bem: toda semana, uma nova famosa se submete à cirurgia plástica da vez, a chamada Lipo LAD. Nos últimos dias, porém, chamou atenção o caso de uma influencer de 18 anos que entrou na faca. Nas redes, a guria contava sobre o processo de pós-operatório “com muita dor” aos seus milhões de seguidores – crianças e adolescentes, na maioria. Longe de mim querer crucificar a mocinha em questão, que é só mais um caso dentre tantos. Mas é impossível ver uma história dessas ganhar repercussão sem se perguntar: afinal, por que tantos adolescentes se submetem a plásticas?

Os números impressionam: nos últimos 10 anos, houve um aumento de 141% no número de procedimentos entre jovens de 13 a 18 anos. Sim: o Brasil lidera o ranking de cirurgias plásticas em adolescentes. Para se ter uma ideia, de acordo com o último censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), 6,6% das operações do tipo foram feitas neste público – enquanto nos Estados Unidos, o segundo do ranking, os pacientes jovens correspondem a 4%. Não é muito alto?

O problema, vale pontuar, não é a cirurgia plástica. Há muitíssimos casos em que o procedimento faz diferença, inclusive, na saúde da pessoa – uma mamoplastia para uma jovem que tem muito seio, por exemplo. Ou até casos intimamente ligados à autoestima, como uma rinoplastia ou uma operação corretiva (a otoplastia é sempre um exemplo).

A questão é que a cirurgia plástica está sendo tratada como algo banalizado nas redes sociais – e não como o procedimento invasivo que é. Uma operação, com anestesia, com internação, com tempo de recuperação. Imagine uma adolescente insatisfeita com o próprio corpo, que não se acha bonita, que encuca com os dois furinhos microscópicos de celulite na perna ou com aquela estria fininha que apareceu por conta do crescimento. Aí, ela abre o Instagram, onde passa boa parte do tempo, e dá de cara com uma, duas, três meninas que são suas referências – de beleza, inclusive. A guria que ela “quer ser”. E que, mesmo sendo “a mais gata”, acabou de fazer uma plástica e conta isso com a maior naturalidade do mundo nos Stories do dia. “Talvez seja essa a saída.”

Será? Pode até ser, em alguns pouquíssimos casos. Mas há tantos outros em que se cria um desejo, uma vontade que vai ficar minando a autoestima daquela guria de 15 anos, que ainda nem tem seu corpo completamente formado e já quer modificá-lo. A blusinha cropped? Só usa depois da lipo. Precisa dela. E se trocar a festa de 15 pela operação?

Fazer uma cirurgia plástica não é comprar uma blusinha. Não é algo que se decide do dia para a noite porque “deu vontade” ou “tá na moda”. É uma decisão importante, que envolve planejamento (inclusive financeiro), que exige maturidade e certeza – inclusive, se o corpo de adolescente está “pronto” para fazer sentido uma operação de tal porte. Além do acompanhamento médico que antecede o procedimento, há muitos casos em que o apoio psicológico faz a diferença.

Será que essa menina não está depositando muitas esperanças em uma operação? A cirurgia pode mudar a vida de muitas pessoas, não duvido – mas será que é a solução mágica para uma guria de 15 anos? Se, na primeira insatisfação, ela achar que o único jeito de se sentir bem é recorrer ao bisturi, o que vai vir depois? Cirurgia plástica é uma saída, não tenho dúvida, mas não pode ser o único caminho.

Adaptado de https://gauchazh.clicrbs.com.br/donna/colunistas/thamires-tancredi/noticia/2020/10/modinha-no-instagram-desejo-de-vida-por-que-ha-tantas-adolescentes-obcecadas-com-cirurgia-plastica-ckgwlm8h4000b012t08r77utd.html

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