Em A Máquina do Tempo, do britânico H. G. Wells, escrito em 1960, uma sociedade é dividida em duas raças, as quais batiza de Elois e Morlocks. Os Eloi são seres pacíficos, mas apáticos, que passeiam despreocupados pela superfície iluminada pelo Sol; os Morlocks passam os dias a operar máquinas no subterrâneo, subindo à superfície apenas à noite, a fim de devorarem os Eloi. Como mímese da realidade, a ficção mostra-nos que o homem, em toda a sua trajetória em busca de inovação e conhecimento, faz do individualismo o seu timbre.

E se o tempo for uma dimensão que se pode percorrer? A ideia surge a Herbert George Wells quando este é ainda um jovem estudante na área das ciências e acompanha-o além da carreira académica, quando começa a escrever pequenas histórias e peças jornalísticas para vender aos meios de comunicação locais. Como tantos outros jovens de classes sociais inferiores, o dinheiro é na altura a sua principal preocupação. Chega, no entanto, um mês em que, por já terem suficientes artigos em carteira, os jornais se recusam a comprar-lhe novos textos. A necessidade financeira fá-lo retornar à ideia. Na esperança de a vender a um mercado inexplorado, apressa-a sob a forma de romance. Dá-lhe o título de A Máquina do Tempo.
O protagonista da aventura é um cientista que cria uma máquina capaz de o transportar através do tempo. Viaja então até ao ano 802.701, deparando-se com uma sociedade dividida em duas raças, as quais batiza de Eloi e Morlocks. Os Eloi são seres pacíficos mas apáticos, que se passeiam despreocupados pela superfície sempre que os campos estão iluminados pelo Sol; já os Morlocks passam os dias a operar máquinas no subterrâneo, subindo à superfície apenas à noite, a fim de devorarem os Eloi, que mantêm como gado.
Originalmente publicado como folhetim,o primeiro romance de H. G. Wells revela-se um sucesso imediato, inspirando inúmeros autores e popularizando as viagens pelo tempo. Mas, mais do que a mera exploração de uma hipótese científica, A Máquina do Tempo reflete a singular visão de Wells sobre as suas próprias dificuldades financeiras e o que entende serem as potenciais consequências do capitalismo: o fosso entre classes (capaz de levar a uma eventual revolta) e a degeneração da burguesia e do proletariado. É esta a ideia que, transformada e expandida, viaja até aos dias de hoje como uma das mais emblemáticas da literatura.
Revista Estante
27 Outubro, 2015
Disponível em: http://www.revistaestante.fnac.pt/a-maquina-do-tempo/. Acesso em: 04 de agosto de 2020.