Leia os textos motivadores.
TEXTO 1
Vivemos em uma sociedade onde problemas coletivos e sociais são gerenciados pelo processo de medicalização que, atualmente, avança a passos largos sobre todas as esferas da vida, diagnosticando fatos cotidianos e ocultando desigualdades. Os problemas de origem social, histórica e política são transformados em problemas individuais, inerentes ao sujeito e solucionados no plano biológico e, no que tange à infância, os campos de aprendizagem e comportamentais são o grande cenário de atuação. No âmbito educacional, a hegemonia do discurso psiquiátrico atua sobre dificuldades comportamentais e cognitivas através das invenções das “doenças do não aprender” e das “doenças do não-se-comportar”. No caso do Brasil, esse processo se fortaleceu a partir da década de 1980 e, paulatinamente, as esferas sociais, histórica, política e cultural foram dominadas pelo poder médico que se utilizava do discurso de hipotéticas disfunções neurológicas. Hoje, quase todos os discursos do campo da medicina psiquiátrica se referem a doenças neurológicas ou psiquiátricas.
Adaptado de: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/167722
TEXTO 2
A busca por soluções fáceis, o diagnóstico equivocado e a incompreensão dos pais acerca da agitação natural das crianças elevaram o Brasil ao posto de segundo maior consumidor de Ritalina do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. O dado do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos é alarmante. Ritalina é o nome comercial do metilfenidato, medicação que promete tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade – TDAH e o Transtorno Desafiador Opositivo – TDO, e os principais consumidores da droga lícita, tarja preta, são crianças e adolescentes.
No Brasil, a rede voltada para a assistência aos problemas de saúde mental da criança e do adolescente é muito precária. As crianças com dificuldades de comportamento, agitadas e inquietas são vistas como doentes pelos profissionais da psiquiatria e da neurociência, e então eles receitam remédios. Como consequência, temos um número elevadíssimo de crianças recebendo medicação, mas sem se discutir se a medicação é mesmo necessária ou se é a melhor forma de cuidado. Seria necessário entender o sofrimento psíquico e os problemas de comportamento, não vendo isso como um problema, pois a maioria delas são apenas crianças agitadas. E no mundo da rapidez e do imediatismo, ironicamente, elas são diagnosticadas como doentes. Num sistema capitalista onde temos que ‘produzir e atingir metas e notas’, os pais não conseguem mais ter o ‘tempo’ para seus filhos e a medicalização da vida passou de usual para normal.Além de causar dependência, a Ritalina provoca muitos outros efeitos colaterais: as crianças emagrecem, têm insônia, podem ter dor de cabeça e incontinência urinária. Por isso, o trabalho de terapia, de orientação e cuidado real com a criança dá muito mais resultado.
Adaptado de: http://www.ihu.unisinos.br/160-noticias/cepat/580285-medicalizacao-na-infancia-remedio-nao-educa
TEXTO 3
Na literatura nacional, o conceito de medicalização é amplamente abordado de maneira simplista, e, embora Foucault seja frequentemente evocado, sua teoria, bem como as nuances cronológicas que o conceito adquire em sua obra, são pouco detalhadas. (…) Partimos de uma hipótese brevemente formulada em Zorzanelli et al.2 de que o termo “medicalização” apresenta dois sentidos na obra de Foucault. Um deles, compreende um fenômeno localizado entre o final do século XVII e o final do século XIX, e diz respeito ao processo de sanitarização de importantes cidades europeias que, no compasso de seu crescimento, passaram a sofrer intervenções médicas com vistas à produção da salubridade e higiene social. Este movimento foi de suma importância para o desenvolvimento das cidades e para a erradicação de algumas doenças e epidemia. Já o segundo momento refere-se à “medicalização indefinida”, que teve início ao final do século XIX e se estende até aos dias atuais. Este momento caracteriza-se por uma extrapolação da ciência médica à vida como um todo, ou seja, não haveria mais exterioridade ao saber médico nem fenômeno que não pudesse ser descrito por meio da relação do corpo com a medicina. A relação entre corpo e medicina insere o fenômeno da medicalização no campo semântico do biopoder.
Adaptado de: http://www.scielo.br/pdf/icse/v22n66/1807-5762-icse-1807-576220170194.pdf
Com base na leitura dos textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em modalidade escrita formal da língua portuguesa, sobre o tema “quais os perigos da medicalização na infância e na adolescência?“